Uma diva na Caixa

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 04/11/2016)

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Segundo as últimas notícias, a equipa de António Domingues não vai entregar a declaração de rendimentos no TC e, segundo consta, até já há ameaças de renúncias na gestão da Caixa. Já percebi que fomos contratar uma Diva para presidente da CGD. Não admira que seja tão caro.


Isto não parece a “equipa de António Domingues”, parece a banda do Mick Jagger. Temos os Rolling Stones à frente da Caixa, com as habituais exigências de quem é uma estrela. António Domingues vai exigir um escritório todo forrado a pedra pomes, o chão alcatifado com pelo de coala, cem garrafas de água dos glaciares da Noruega, por dia, e ar condicionado movido a pedal por três virgens suecas.

Dá a sensação que António Domingues é a última Pepsi do deserto dos banqueiros. Já nem Coca-cola havia. Faz alguma confusão que o homem que vem para cuidar da Caixa, e torná-la um banco do Estado ao serviço do país, se recuse a mostrar a declaração de rendimentos. Se foi por razões de privacidade, foi mal jogado, porque se o tivesse feito assim que chegou, por iniciativa própria, poucas pessoas iriam ter curiosidade de ver, agora, a famosa declaração de rendimentos. – “E se ele tiver investido tudo em acções do BPI antes de ir para a CGD? Sei lá o que vai para lá fazer?!”; – “E se ele não tem nada e perdeu tudo ao jogo?! Ele tem a chave do cofre?!”; – Eu sei, estamos todos um bocado histéricos, mas, infelizmente, somos do tempo em que havia seis pessoas para abrir uma porta ao Doutor Salgado.

Em tempos, Passos Coelho recusou fazer o que chamou de “um striptease fiscal”. Agora, o presidente da Caixa quer mais de trinta mil euros por mês no decote mas recusa mostrar a coxa. É uma birra injustificável. Começo a desconfiar que o António Domingues tem o Piloto escondido na declaração de rendimentos.

Na verdade, se “tirarmos a pinta” a este novo presidente da Caixa, vemos que tem todo o ar e postura de tubarão banqueiro do privado. É como se a Caixa tivesse ido contratar um pistoleiro para atacar o mercado. Um tipo com sangue frio suficiente para exigir estatuto de privado para trabalhar no público. Parece que a Caixa quer ser mais como os outros bancos, depois de ter andado os últimos anos a salvar esses bancos.

António Domingues entra em cena como um elefante numa loja de porcelanas, o que deve dar muito jeito a quem está desejoso de vender a Caixa aos chineses. Nos últimos dias, depois de todas estas notícias, apareceram, imediatamente, os defensores da privatização da Caixa. Henrique Monteiro, no Expresso, veio logo a cavalo, dizer: “A Caixa devia ser privatizada por uma questão de higiene pública”. Claro, Henrique… Quanto mais não seja, porque os privados a gerir bancos têm sido uma limpeza no bolso do contribuinte.


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Divas 
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3. Pedro Sánchez lança campanha para recuperar liderança do PSOE: O PSOE é o que seria hoje o PS se o Francisco Assis tivesse conseguido fazer um almoço de leitão com gente suficiente.

4. Legionella em hotel no Algarve: Até a Legionella já vem cá passar férias. Não ponham travão nisto…

5. Utentes do Metro de Lisboa queixam-se dos atrasos: Já todos atrasámos uma hora, menos os transportes públicos de Lisboa, que continuam com hora e meia de atraso.

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