A má-fé dos dirigentes da União Europeia

(Baptista Bastos, in Jornal de Negócios, 28/10/2016)

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Baptista Bastos

Costa pode ter muitos defeitos, mas um não possui: o da subserviência rastejante.


Wolfgang Schäuble, o ministro alemão dos dinheiros e figura todo-poderosa da União Europeia, está descontente com as decisões tomadas por António Costa, actual primeiro-ministro português. Schäuble está habituado a uma total obediência de propósito, e recordamos a manifesta simpatia demonstrada por Vítor Gaspar, ao ponto de chegar a confidências surpreendentes, filmadas a descaso, mas reveladoras das suas funestas simpatias. Logo que saiu do Governo, onde esteve durante mais de dois anos, Vítor Gaspar enveredou por uma carreira de cariz internacional. Costa pode ter muitos defeitos, mas um não possui: o da subserviência rastejante.

Esclareço que Gaspar está, agora, num lugar importante numa das estruturas económico-financeiras que possuem nexo com a União. Repare-se, como modesta anotação, que todos os portugueses que concordam com os métodos e os processos dos dirigentes da União, mais cedo do que tarde, são colocados em altos postos.

O actual Governo português não embala os corações dos dirigentes da União Europeia, e as pequenas lutas, que não são do apreço nem do conhecimento gerais, possuem um valor acrescentado aos trabalhos e às tarefas regimentais. Ainda ninguém sabe aonde tudo isto vai parar, mas lá que é uma canseira dupla, lá isso… 

Agora, foi a manigância de um pequeno obstáculo, observado pelos senhores da União Europeia, que está a atrasar a aprovação do Orçamento português. Nota-se logo que o empecilho constitui mais uma parda anotação do que uma verdade factual. Por outro lado, em Portugal, os obstáculos erguidos em torno do documento, e malfeitosamente personificados por Passos Coelho, chegam a ser obscenos. A natureza das evidências deixam o alemão Wolfgang Schäuble completamente fora de si, mas as evidências dos documentos apresentados por Lisboa só não são aprovados porque a morosidade das aprovações deixam atrás de si um roldão de suspeitas.

Como temos assinalado, os obstáculos que a União tem apresentado às propostas e aos documentos portugueses são significativos do verdete que os alemães demonstram pelo Governo nacional. Sobretudo pelo desconforto aguerrido constantemente exposto por Schäuble. Ele e o alargado grupo que o acompanha estão cada vez mais pressionados pelos movimentos de extrema-direita, que assumem, na Alemanha, um poder cada vez mais decisivo. E anote-se que o partido da senhora Merkel, a CDU, apoiada pelo PSD, está a sofrer abalos poderosos. É estranho ou, pelo menos, sintomático, que as alterações políticas registadas na Alemanha atinjam aspectos surpreendentes.

Estamos perante uma nova esquina da História, cujos resultados são, pelo menos, preocupantes. A Alemanha atingiu um nível de bem-estar até agora nunca visto, mas as convulsões sociais alemãs nunca deixaram de estar presentes. Por outro lado, pouco sabemos do que ocorre nos outros vinte e sete países da União. As coisas nunca acontecem por acaso, e não podemos, nem devemos ignorar, as declarações de Francisco Louçã, ainda há pouco advertindo que a União Europeia estava seriamente ameaçada. A ver vamos. 

Um pensamento sobre “A má-fé dos dirigentes da União Europeia

  1. Tenho a mesma impressão acera de António Costa… Não rasteja mas tem de ser hábil, muitíssimo hábil, contra alguns dirigentes europeus…

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