A Realidade e a bússola

(Isabel Moreira, in Expresso, 15/10/2016)

ISA_MOR

Ontem, antes da apresentação do OE para 2017, assistimos a horas de comentário televisivo, sendo de destacar a quantidade de vezes que foi dito, nomeadamente por Tiago Caiado Guerreiro, que estamos perante um OE “ideológico”.

A coisa é dita com horror, quando vivemos quase 50 anos numa “ideologia” de proibição de ideologias.

Ora, felizmente, o OE para 2017 é ideológico. É apresentado por um governo socialista e isso quer dizer alguma coisa. O parlamento tem a composição atual e isso quer dizer alguma coisa. Quer dizer que os portugueses escolheram uma política que brotasse de uma linha, imagine-se, ideológica.

Anda para aí uma propaganda segundo a qual a ideologia é o equivalente a uma utopia que impede os irresponsáveis socialistas de serem pragmáticos, de aterrarem na realidade.

Os propagandistas deste horror ditatorial tentam fazer esquecer que andar na realidade sem ideologia é como que andar por aí sem uma bússola.

Precisamente o que este governo faz é olhar para a realidade com uma bússola, a tal da ideologia, que tem consequências terríveis para os comentadores comprometidos em salvar a face, porque estiveram quatro anos ao serviço da esdrúxula “austeridade expansionista”.

As consequências terríveis passam desde logo por demonstrar que o problema do crescimento económico também está na desigualdade criada pela direita.

Para os socialistas é ideologicamente imperativo, por razões de decência, devolver rendimentos, aumentar salários, repor prestações sociais, devolver pensões, aumentar pensões, diminuir impostos sobre o trabalho, entre outras medidas, mas também sabemos, ao contrário da direita, que não há crescimento económico sem esta decência.

As escolhas feitas no OE, como a tributação do património (nos exatos termos em que o mesmo está previsto no OE e não na versão José Gomes Ferreira) é uma escolha ideológica no sentido de diversificar as fontes de financiamento da segurança social. E, para desgraça de quem já quem só tem como arma afirmar que o OE é ideológico, o “governo das esquerdas” consegue o que a direita foi espetacular em falhar: rigor na consolidação das contas públicas e justiça social.

Continuaremos assim. Não queremos andar por aí com oito orçamentos retificativos. Queremos estar atentos à realidade, claro, mas com ideologia. Com bússola.

4 pensamentos sobre “A Realidade e a bússola

  1. Ninguém vive sem idialogia mesmo aqueles que dizem não ter idialogia esquecem que isso já é uma opção
    Uma forma de pensar um objetivo é uma forma e estar na vida com as respetivas opções

  2. Ciências. Justiça. Arquitectura. Engenharia. Economia & Finanças. Artes..
    Poetas. Verdade. Liberdade. Sabedoria. Filosofia..
    Democracia Directa Liberal Digital..
    Aos Mais Sublimes..
    Ciências & Artes..
    Justa Justiça..
    Global..

  3. Quem é o Tiago ? Come-se? Um dos problemas de Portugal é dar atenção a qualquer figurinha desde que seja mediática, mesmo que seja totalmente ignorante sobre as matérias a que se refere.

    No dia 15 de outubro de 2016 às 17:42, A Estátua de Sal escreveu:

    > estatuadesal posted: “(Isabel Moreira, in Expresso, 15/10/2016) Ontem, > antes da apresentação do OE para 2017, assistimos a horas de comentário > televisivo, sendo de destacar a quantidade de vezes que foi dito, > nomeadamente por Tiago Caiado Guerreiro, que estamos perante um OE ” >

    • É uma figurinha, consultor fiscal para grandes negócios, (ou seja, ajuda-os a pagar menos impostos, usando os “buracos” da lei), e a quem a SIC dá sempre grande tempo de antenna quando é necessário falar de fiscalidade…

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