FEIOS, PORCOS E MAUS

Fonte: FEIOS, PORCOS E MAUS – JOSÉ MIGUEL SILVA

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Compram aos catorze a primeira gravata com as cores do partido que melhor os ilude. Aos quinze fazem por dar nas vistas no congresso da jota, seguem a caravana das bases, aclamam ou apupam pelo cenho das chefias, experimentam o bailinho das federações de estudantes. Sempre voluntariosos, a postos sempre, para as tarefas de limpeza após combate. São os chamados anos de formação. Aí aprendem a compor o gesto, a interpretar humores, a mentir honestamente, aí aprendem a leveza das palavras, a escolher o vinho, a espumar de sorriso nos dentes, o sim e o não mais oportunos. Aos vinte já conhecem pelo faro o carisma de uns, a menos valia de outros, enquanto prosseguem vagos estudos de Direito ou de Economia. Começam, depois disso, a fazer valer o cartão de sócio: estão à vista os primeiros cargos, há trabalho de sapa pela frente, é preciso minar, desminar, intrigar, reunir. Só os piores conseguem ultrapassar esta fase.

Há então quem vá pelos municípios, quem prefira os organismos públicos — tudo depende do golpe de vista ou dos patrocínios que se tem ou não. Aos trinta e dois é bem o momento de começar a integrar as listas, de preferência em lugar elegível, pondo sempre a baixeza em cima de tudo.

A partir do Parlamento, tudo pode acontecer: director de empresa municipal, coordenador de, assessor de ministro, ministro, comissário ou director-executivo, embaixador na Provença, presidente da Caixa, da PT, da PQP e, mais à frente (jubileu e corolário de solvente carreira), o golden-share de uma cadeira ao pôr-do-sol. No final, para os mais obstinados, pode haver nome de rua (com ou sem estátua) e flores de panegírico, bombardas, fanfarras de formol.

8 pensamentos sobre “FEIOS, PORCOS E MAUS

  1. ”Só os piores conseguem ultrapassar esta fase.

    Há então quem vá pelos municípios, quem prefira os organismos públicos — tudo depende do golpe de vista ou dos patrocínios que se tem ou não. Aos trinta e dois é bem o momento de começar a integrar as listas, de preferência em lugar elegível, pondo sempre a baixeza em cima de tudo.”

  2. Excelente ilustração das jotinhas portuguesas. A carapuça assenta na perfeição nas de direita. A JSD e a Juventude Popular são exímias em destilar o pior que a juventude portuguesa tem para oferecer. Grave mesmo foi o PSD e o amigo Coelho terem forçado as melhores mentes portuguesas a emigrar enquanto a jotinha acumulava o que não interessa para a sociedade… O verdadeiro Darwinismo social invertido.
    As juventudes partidárias não têm de ser assim. Quem sabe até há algumas que não o são. Mas o que transparece é mesmo isso: uma colecção de mentecaptos, desprovidos de medula espinal, a salivar na fila para o próximo tacho. As coisas correm mal quando a facilidade de ingresso e progresso dentro da jota é proporcional à destreza com que se lambem traseiros e sapatos. A partir daí só progridem quem conseguem mostrar uma amoralidade e inexistência de princípios muito acima da média – vide Coelho, Relvas e Marques, três dos piores exemplos do que a JSD é capaz de regurgitar. Não se trata de formar políticos de qualidade mas sim garantir que será fácil manipulá-los quando estes se apanhem com uma réstia de poder.
    O CDS então nem disfarça. “Universidade” de Verão? Qual quê! Escola de Quadros. Vão logo à jugular. Ali não se discute política – é um campo de treino para a recepção de futuros tachos.

  3. Não gosto mesmo nada desta saraivada de insultos dirigidos contra todos porque dirigidos contra ninguém, em tom de chacota, claro, porque nunca se sabe se será necessário recorrer à desculpa do sarcasmo. Querem melhores políticos? Mudem o sistema eleitoral, mas não esperem milagres, porque os políticos normalmente são melhores que os eleitores que os elegem e invejam, embora digam detestá-los. Alarve por alarve, é sempre preferível um com um curso superior, mesmo na Universidade do Relvas…

  4. O pior e mais terrível para o país é que a fina flor deste tipo de gente não se prepara em pensamento para ajudar a Cidade mas em esperteza para assaltar a Cidade.
    E quando surge alguém que pelo estudo aturado, pelas qualidades de inteligência ou pelo carisma, intuição e visão política se revela um infinito acima das suas habilidosas mediocridades logo eles se juntam como matilha avançada da maldade prontos a destruir o bem que tal vulgo qualificado representa.
    O cavaquismo foi a escola que nos legou tais estudos e alunos para desgraça de Portugal.

  5. Do melhor que vi até hoje na blogosfera, bem elucidativo da forma em que se encontra o nosso país, carenciado que está de humanismo e patriotismo.Numa revanche de uma direita já muita próxima de um neo-fascismo.

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