Durão gelatina

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 22/07/2016)

quadros

João Quadros

A notícia de que Durão Barroso ia trabalhar para o Goldman Sachs apanhou-me de surpresa.

Sempre pensei que Durão já trabalhava para o Goldman há muitos anos. Não fiquei chocado. Tenho mais receio dos que vêm do Goldman para cá do que os que vão de cá para lá. Para mim, o Goldman Sachs não é currículo, é cadastro.

Durão Barroso no Goldman Sachs é o expoente máximo do “só se estraga uma casa”. Durão no Goldman é como se o José Rodrigues dos Santos casasse com a Margarida Rebelo Pinto, o Schäuble fugisse com a Maria Luís e o Carrilho fosse viver com o Paco Bandeira.

Durão ajudou a encenar a cimeira das Lajes e as armas químicas invisíveis que justificaram a guerra do Iraque. O Goldman maquilhou as contas da Grécia para justificar a entrada no Euro. São também o homem e a instituição que muito fizeram para conduzir a Zona Euro para uma crise sem precedentes. Têm tudo para dar certo. Foram feitos um para o outro. Imagino que a lista de casamento esteja num “offshore”.

Barroso é daquelas pessoas que pode ir para todo o lado porque tem muitos convites e ainda mais pouca-vergonha. Estava indeciso entre o convite do Goldman e o cargo de “chairman” do Daesh, mas os outros radicais pagavam menos. Se Barroso fosse o Mister Scrooge – e tivesse um momento de catarse – e recebesse a visita dos fantasmas do Natal passado, presente e futuro, só ficava chateado e chocado por estar mais gordo. Não mudava nada. Porque há mais coração num avarento do que num ávido por glória e poder que tem a moral de quem nada lhe custou a ganhar.

Durão Barroso diz que aceitou o cargo no Goldman Sachs porque “tem direito a ter vida profissional”. É muito parecida com a desculpa que deu quando deixou de ser PM a meio do mandato. Foi graças a dez anos de vida profissional de Durão na CE que muita gente deixou de ter vida profissional por essa Europa fora. Diz o senhor José Barroso que “se é preso por ter cão e por não ter”, quando o que está em causa é quem é o dono dele.

Não vou negar que acalento uma secreta esperança que Durão vá fazer ao Goldman Sachs o que fez à UE. Durão é uma espécie de gato preto que passa à frente da esperança de que as coisas vão melhorar. Uma sexta-feira 13 do “isto tem tudo para correr bem”. Em quatro anos no Goldman, pode ser que aquilo se transforme numa pequena caixa de aforro. A inabilidade de Durão, no interior do lado mau, pode dar origem a um mundo melhor. Se Barroso fosse para os Médicos sem Fronteiras, ou para a Amnistia Internacional ou, pior ainda, para o Sporting, aí sim, reconheço que ficava assustado.


 top 5

Goldman 1. Portugal campeão europeu de hóquei patins, ouro para Portugal na Taça da Europa de judo. Teresa Bonvalot é campeã júnior da Europa de surf – Vá lá, EPAL, desembuchem: o que é que deitaram na água?!

2. FMI diz que banca portuguesa é ameaça à economia mundial – E andaram os tipos do FMI cá durante quatro anos, com as pastas de um lado para o outro, e não deram por nada. Lá vamos nós ter de salvar a economia mundial. Vamos pagar o Deutsche Bank.

3. Crato: “O país não pode ter só doutores. Temos de ter jovens formados para profissões técnicas” – Foi o que os filhos dele foram fazer ao ir estudar lá para fora. O mais velho vai ser marceneiro em Oxford.

4. Mais de 50 mil pessoas presas na purga de Erdogan após o “golpe” – O Reichstag fire do Erdogan está com um rescaldo do caraças. O “golpe falhado” na Turquia parece quando um indivíduo encena o funeral para ver quem gosta dele.

5. Marcelo Rebelo de Sousa condecorou ontem oito atletas que recentemente ganharam medalhas em campeonatos europeus – Vão ter de derreter a taça de campeões europeus de futebol para fazer medalhas.

5 pensamentos sobre “Durão gelatina

  1. Este comentário é para o bb do ‘cm’ postado logo abaixo.
    Em tempos já fiz vários comentários a bb, na fase pré-‘cm’ e nos tempos socráticos, que anda há anos e anos sempre a dizer mais ou menos o mesmo que se resumia ao seu célebre pensamento; “não foi este o país que me prometeram”.
    E continua sempre igual com variações sobre o tema muito especialmente através de palavreado que tenta fazer o mais rebuscado que encontra nos livros e dicionários para dar a impressão, por mudança de fraseologia selectamente refinada, que escreve sobre assuntos diversos mas que, no fundo, são sempre o mesmo pensamento lido na cartilha(m-l) que foi inovadora há 150 anos.
    E vejam que nem é capaz de distinguir a relação verdadeiramente subserviente e untuosa de ppc, rabaça e mla junto de Merkel ou Shauble do posicionamento e relação de Sócrates como PM de um país soberano argumentando fundada e acertadamente junto de Merkel como um par igual, contra Shauble e metade do governo alemão, para a convencer e levá-la para o seu lado do PEC IV, como realmente conseguiu, apesar dos comunicados e entrevistas contra na imprensa alemã do estupor Shauble que acabou derrotado mas a quem cavaco e ppc deram de novo a vitória contra o próprio país.
    Também o estupor do bb, como sempre, esteve do lado do PCP que votou ao lado de cavaco, de ppc, e claro, intelectual e instrumentalmente ao lado de Shauble.
    O caso Sócrates é a pedra de toque que permite ao ‘cm’ escolher os seus colaboradores (alguma excepção é para confirmar a regra). E estes, ó vis avençados, nunca desiludem o imenso grupo de terroristas emboscados atrás da ‘liberdade de informação’ que tentam matar as vítimas para depois lhe sugarem o sangue sob forma de letra de imprensa tresandando a podre.

    • Com algumas verdades, é certo, mas demasiado rebuscado, caro Neves. Sobre o CM, o homem também tem que viver depois de ter sido saneado do DN. É uma espécie de spray ambientador do CM…:)

  2. Exissmo José Neves… podia descodificar os seus bb… e ‘cm’ ou pre ‘cm’ que ponctuam o seu discurso

  3. Em 22 de julho de 2016 17:26, “A Estátua de Sal” escreveu:

    > estatuadesal posted: “(João Quadros, in Jornal de Negócios, 22/07/2016) A > notícia de que Durão Barroso ia trabalhar para o Goldman Sachs apanhou-me > de surpresa. Sempre pensei que Durão já trabalhava para o Goldman há muitos > anos. Não fiquei chocado. Tenho mais receio dos q” >

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