Minha alegre casinha

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 15/07/2016)

quadros

João Quadros

 

Somos outros desde que vencemos o Euro. Estamos mais confiantes.

O presidente do Eurogrupo diz que “as sanções a Portugal vão depender da resposta que o Governo vai dar à ameaça que será hoje concretizada” e a pergunta que me ocorre é: será que dá para mandar a carta do mister Fernando Santos ao Ecofin? É melhor não, que aquilo é um grupo de protestantes que, estranhamente, quer Portugal no purgatório.

 Vencemos a França em casa, com um árbitro caseiro, e sem CR7. Nunca desistimos. Há pessoas que viram o Éder receber a bola e aproveitaram para ir à cozinha. Moral da história: temos de acreditar até não acreditar no que conseguimos. Não há Ecofin batoteiro que nos meta medo. Estamos insuflados. Se “França é França”, imaginem o que não somos nós. Os franceses ofereceram a estátua da liberdade aos EUA, podiam oferecer-nos a camioneta com as cores de França campeã da Europa para pôr no Terreiro do Paço. Precisamos de auto-estima, e essa camioneta faz-nos bem.

 Não há sanções para campeões, está em letra pequenina no Tratado de Lisboa e arredores. “Vão no mau caminho”, dizem eles. Sim, e também jogamos mal, mas ganhámos o campeonato da Europa. Imagina se jogássemos bem. Nem aparecia ninguém para o Mundial. O que custava a ganhar era o primeiro. Depois, nos próximos, logo damos “show”.

 A única coisa que me preocupa, nos dias de hoje, é onde é que anda a taça? Hum? Ficou com quem esta noite? Não aguento isto. Estou umas horas sem ver a taça e só me lembro que o BES estava seguro e que os pais da Maddie foram só jantar.

 Nesta altura, o sensato leitor deve estar a pensar que esta é mais uma crónica histérica sobre Portugal e a vitória no Euro 2016. Tem toda a razão. Tem sido um excesso, eu sei, mas imagine se tivéssemos perdido. Seria igual, mas nos tons de cinzento pastoso a que estamos habituados.

 Imaginar um mundo onde perdemos a final contra os franceses, em Paris, aos 109 minutos de jogo com um golo do Mangala, é como imaginar que os nazis ganharam a II Guerra Mundial e agora os alemães mandam na Europa.

 Como seria se tivéssemos perdido? Tirando Rui Santos, o país teria caído numa profunda depressão. Mais do mesmo. Era como se não houvesse alternativa. “Acabamos sempre por perder.” Teria consequências para o país. Mal apitassem para o final do jogo, António Costa enviava um plano B para Bruxelas. Marcelo medalhava mais gente do fado. O ministro Centeno ia à reunião do Ecofin com um cachecol da Maria Luís e a oposição punha em causa o curso de engenheiro de Fernando Santos. Havia reportagens na televisão sobre um adepto francês que gozou com uma criança portuguesa (que estava a chorar a seguir à nossa derrota na final) e a música da Selecção era mesmo a do Abrunhosa. Ninguém quer viver nesse mundo.


 top 5

Éderzitos

1. Durão Barroso vai ser “chairman” do Goldman Sachs – Durão vai apanhar pokémons para o Goldman Sachs.

2. Inspecção-Geral da Educação vai investigar turmas-fantasma detectadas nos colégios privados – Há duas turmas-fantasma na universidade de Verão do PSD

3. “Rules are rules”, disse o ministro francês das Finanças sobre as sanções a Portugal – Ufa, isto quer dizer que desistiram de repetir a final.

 4. Ecofin: valor e levantamento das sanções depende dos “novos passos” dados em Lisboa e Madrid para pôr países “back on track” – Sanções porque não estamos a fazer o que fez com que falhássemos o défice. Pensar que o Reino Unido fugiu disto. Grandes malucos.

5. “Passos não vê conflito de interesses na ida de Durão Barroso para o Goldman Sachs” – Tem toda a razão, os interesses sempre foram os mesmos.

Um pensamento sobre “Minha alegre casinha

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