Agora eles protestam

(Baptista Bastos, in Correio da Manhã, 04/05/2016)

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Baptista Bastos

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Corre por aí um manifesto contra a «espanholização» da banca. Os signatários, gente considerável, insurgem-se com os processos que tendem, cada vez mais, a minimizar o sistema bancário português. Mas isto é o «mercado», a «globalização», tão louvados por eles mesmos, como decorrência do sacrossanto neoliberalismo.

A mesma «abertura» que impeliu, há dias, os suinicultores a ir para a rua, em várias cidades, protestando contra a «invasão espanhola», que dizima a produção nacional e os coloca numa situação de letal sufoco. Outros sectores da pecuária e, de um modo geral, da agricultura portuguesa e das pescas sofrem a competição desleal de outros países, sem que os governos consigam alterar as imposições da ordem nova, com as regras de «abertura» total. Reina a lei do mais forte. Já decapitaram as pescas, a lavoura, o mundo do trabalho; já determinaram o método e a forma de respirarmos; com a «austeridade» e o «empobrecimento» (aliás proclamados e praticados pelo Dr. Passos de triste memória), os portugueses foram empurrados para uma implacável e cruel situação de sofrimento que nos levou ao desespero.

Nunca aquele primeiro-ministro se opôs ou recalcitrou; pelo contrário, foi um obediente serventuário de quem manda, a senhora Merkel e um grupo ao serviço da grande finança internacional. Não há que fugir a estas definições, nem às conclusões que lhes subjazem. Com displicente leviandade, os governos europeus capitularam, ante o poder de esta ideologia, que se tornou dominante. Quando o Syriza e o governo grego bateram o pé e refilaram, o cerco àquele país foi dos episódios mais sórdidos desta falsa União.

A traição à ideia de uma Europa sem guerras, e de uma economia ajustada à dignificação do homem e do trabalho, é apoiada pela grande finança. Não devemos, em nome da decência, ocultar a razão e o sentido das palavras.

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