É isto que querem?

(Baptista Bastos, in Correio da Manhã, 17/02/2016)

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Baptista Bastos

A união europeia é uma armadilha habilmente montada pelo capitalismo mais predador.


 

Não entendemos o que os políticos dizem. Eles não falam connosco e muito menos paranós. O elevado grau de incomunicabilidade reside, acaso, em os políticos raramente conversarem de política e de nos termos afastado dela por desprezo, indiferença e pela “rotatividade” dos propósitos. Ouve-se dizer: eles querem é tratar da vidinha. Há uma certa asserção no dito. Perdeu-se a vocação ideológica e a paixão que deram, há muito tempo, um sentido criador à nossa existência social, cultural e ética. A mediocridade tem feito cama. Não há polémica. Apenas no futebol o debate parece existir; e, mesmo assim, em que moldes, em que estilo e em que dimensão?

Leio-lhes as longas entrevistas, ouço-lhes os discursos e as proclamações. Nada dizem: só falam. E, no entanto, a política é um dos interesses da cultura, quando não uma disciplina aplicada. Os intelectuais portugueses emudeceram; as televisões a eles não se referem, exatamente porque inexistem, pior do que não existirem. Onde o protesto, o abaixo-assinado, a indignação?, onde?
Portugal passou a ser uma colónia alemã. A União Europeia é uma fraude política escondida nas malhas da economia, e uma armadilha habilmente montada pelo capitalismo mais predador. A quem serve? Deixou de haver jornalistas, no exacto sentido da nobre palavra. São meros microfones esticados, ou, pior, explicações de “economês” bastardo. O idioma sofre tratos de polé, com a aparente simplificação ortográfica. Nada no-lo é explicado. Só conheço, e mal, um programa de literatura?, praticamente uma charada. São às dezenas os de futebol, ligeirinhos, ligeirinhos; e os de futilidades sem nexo nem sentido.

“Que Portugal se espera de Portugal?”, perguntava, há anos, o grande poeta Jorge de Sena. Estranhamente, a pergunta permanece, como chaga inquietante que se não atenua. É isto que querem?

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