Os responsáveis pela morte do 7º banco português

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 21/12/2015)

nicolau

O Banif fechou ontem as portas para sempre. É a morte do banco fundado por Horácio Roque, que não merecia que a sua memória fosse manchada por este colapso. Mas não se chegou aqui por acaso. A gestão política do caso feita pelo Banco de Portugal, em conivência com o anterior Governo, conduziu a este fim.

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, deve uma explicação aos portugueses. Deve uma explicação pela estratégia que seguiu na resolução do BES e na venda do Novo Banco, que falhou rotundamente e que para já está a custar aos contribuintes pelo menos 3,9 mil milhões de euros. E deve uma explicação pela gestão que fez do caso Banif, e que pelo menos vai custar 2,4 mil milhões aos contribuintes. Tudo somado, Carlos Costa já passou uma fatura aos portugueses de 6,3 mil milhões de euros. No mínimo tem de explicar-se.

Mas não só ele. A anterior ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, também deve uma explicação aos portugueses. O Ministério das Finanças tem a tutela do sector. O que fez Maria Luís desde dezembro de 2012, quando pela primeira vez a DGCOM defendeu a extinção do Banif? Como foi possível passarem dois anos e nove meses sem serem tomadas decisões que impedissem o fim do sétimo maior banco português? E o anterior primeiro-ministro também não sabia de nada? Ninguém lhe disse o que se passava?

O que parece ter acontecido é que, primeiro, Maria Luís não dedicou nenhuma atenção ao assunto (aliás, considerava Jorge Tomé, presidente do Banif, “o Varoufakis português”). Depois, com o caso BES/Novo Banco, a sua enorme preocupação (e a de Passos Coelho) foi afastar o mais possível o Governo da fogueira e empurrar tudo para cima do Banco de Portugal e do governador, estratégia com que este, ativa ou passivamente, foi obviamente conivente. E com a aproximação das eleições de 4 de outubro deste ano, o que Passos e Maria Luís não queriam de todo era que fosse necessário a resolução de mais um banco, pelo que o assunto foi varrido para baixo do tapete.

Agora chegou a fatura, como sempre para os mesmos. São pelo menos 2,4 mil milhões, a que se juntam os 3,9 mil milhões que já estão no Fundo de Resolução por causa do BES/Novo Banco. Alguém tem de responder por isto. E não é a gestão do Banif que, como admite o Banco de Portugal, conseguiu “a redução de custos de estrutura e, até ao final de 2014, a melhoria da posição de liquidez com a diversificação das fontes de financiamento e a estabilidade da base de depositantes”. Uma estabilidade que foi comprometida quando, há uma semana, uma notícia da TVI, dando nota da possibilidade do banco fechar as portas, provocou uma corrida aos depósitos, com o levantamento de quase mil milhões de euros numa semana, sem que o Banco de Portugal tomasse qualquer decisão concreta para travar a hemorragia.

Não, no fim do Banif há culpados, sobretudo por omissão e pela gestão política do processo. No mínimo é essencial que eles se expliquem no Parlamento.

14 pensamentos sobre “Os responsáveis pela morte do 7º banco português

  1. Já que o BCE vale como o banco dirigente das decisões deste país em matéria financeira, gostaria de saber o que faz ainda de pé um “Banco de Portugal” já que só fizeram tais asneiras. Já pouparia aos contribuintes os salários deste miseráveis (quantos pessoas na chefia?) que vivem melhor do aqueles que “vivem acima das suas possibilidades”, nós todos a apertar o cinto há 4 anos, trabalhadores, pensionistas e gente comum, a vaca gordo destes ministros sem escrúpulos, ou pior ainda incompetentes!!!

  2. Ainda que mal pergunte: e o Banif não teve direcção? Os primeiros responsáveis não serão aqueles 7 Dr.s e 1 Prof. Dr que fizeram saber dos lucros fantásticos no final de 2014 e no final do 3.trimestre de 2015 nos respectivos relatórios de contas e de gestão?
    Crime económico, com prejuízos para um país, não deixa de ser crime. Bem antes pelo contrário.

  3. Na linha do comentário de Danielle Foucaut Dinis que se interroga sobre “o porquê?” da existência de um BP quando quem realmente manda é o BCE. Enquanto a UE não for uma federação tipo USA, o BP, tais como os outros BNacionais devem ter a sua razão de existir, quanto mais não seja como entidades fiscalizadoras. Acontece que o BP só consegue ver o que as Administrações do Bancos entendem dar a conhecer a quem os fiscaliza. Regan&Tatcher iniciaram um processo, que foi finalizado por Bill Clinton, de desmantelamento das regras de controle do sistema financeiro (Glass–Steagall) porque segundo Milton Friedman “nós os banqueiros somos gente responsável”. Assim sendo, há que privatizar os “nossos” lucros e xoxializar os prejuízos por que nos entrega o dinheiro para ir ao casino. A comissão parlamentar vai ser mais do mesmo ou seja, os responsáveis não se lembram, não tem memória, não sabiam de nada, a sanção quando muita será um exílio num qualquer cargo na comissão europeia e nada avançará, em termos de uma eficaz regulamentação e fiscalização no sector bancário porque, se o fizerem, os mercados passam a tratar Portugal como se “foramos coreano-bragantinos”
    Existem alternativas mais crediveis no sector privado e também existe um banco “NOSSO” – o do estado. Os depositantes tem alternativas. Se a minha empresa falir, Eu não vou pôr os restantes portugueses a pagar a MINHA FALÊNCIA. EU NÃO POSSO SER OBRIGADO A PAGAR AS MÁS PRÁTICAS DE GESTÃO DOS OUTROS.
    Vão-me perdoar o dislate mas, se FALIU, P*** Que O Pariu.

  4. Nicolau Santos, com este caso, pretende imputar toda a responsabilidade para o Governo anterior, e isso descredibiliza-o, já que, as causas vêm de longe, na verdade, desde a fundação daquele banco, da gestão ruinosa do GRM pelo Jardim e da covardia e demagogia política dos dirigentes dos partidos do poder. Todos!

  5. E ninguém é VERDADEIRAMENTE penalizado?! Ficamos sempre pelas denúncias de quem continua a viver , esses , sim, acima das suas possibilidades , sem que sofram as devidas consequências dos seus crimes?!

  6. A menina Albuquerque não é responsável, o tecnoformico Coelho não é culpado, o irrevogável Portas também não (não deve ter tirado milhares de fotocópias), o ceguinho do Banco de Portugal nada vê, a não ser o ordenado chorudo ao fim do mês, e a nossa querida estrela de Belém desta vez teve muito cuidado com as palavras, não disse que as acções do Banif eram boas, (comprem meninas comprem). A culpa é dos piegas pagantes, que voltaram a votar na geringonça da PAF, aliás já fez PUF, e que varreram para baixo do tapete, mais este lixo bancário, para o nosso pobre PIORTUGAL ter uma saída limpa, ao jeito que Bruxelas e Belém queria. Mas o efeito dominó, não vai parar por aqui…os nadadores salvadores contribuintes pagantes e ignorantes irão em breve salvar mais BANKSTERS portugueses.

  7. pOrque tenho de pagar as contas dos que nunca fizeram nada é apenas mandaram posta de pescada para o ar. Não tem noção da realidade da vida nem querem saber como vivem aqueles palermas que lhes oferecem os votos prazenteiramente sem nenhumas contrapartidas. É repugnante que estes senhores importantes não sejam castigados pelas asneiras que nestes últimos 40 anos só tem feito barbaridades.

  8. Mais uma vez alguem, devidamente identificado, não cumpriu as responsabilidades assumidas, e nada se faz. Porque não vão exigir a esses “alguens” o cumprimento das obrigações e a devolução dos milhões que roubaram, em vez de sermos nos, contribuintes a pagarmos o roubo?

  9. Infelizmente caminhamos novamente para o 28 de Maio.
    É altura dos PORTUGUESES abrirem os olhos, e derrubarem para sempre esta cáfila de ladrões e malfeitores, que a troco de democracia, vivem à custa de quem trabalha a troco de meia dúzia de “tostões”.

  10. Explicações???? Para quê???? Não, nada disso. O que é preciso para estes casos são execuções, assim talvez resolvessemos os problemas dos bancos e da saúde dos banqueiros. É obvi que nada vai acontecer, e daqui a uns meses vamos ter que pagar para a CGD. Conclusão: só temos gatunos.

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