Do que se trata!

(Joseph Praetorius, in Facebook, 07/12/2015)

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   Joseph Praetorius

De Richard Durn – republicano, laico e emergindo da esquerda, que quis matar a morte por já não estar vivo – até ao Djiadismo, do que se trata – socialmente e politicamente – é do nihilismo.

Richard Durn com os tiroteios norte-americanos demonstram que não é preciso haver radicalização islamita para haver chacinas e há também alguns casos alemães a demonstrá-lo.

Em França, o desabamento do regime face à população que vota massivamente nos malditos e párias da “extrema-direita” pode não se afastar muito deste fenómeno (para desencanto e desilusão de quem aqui quer ver um regresso às fontes do nacionalismo integrista, soberanista e porventura romântico).

Uma coisa parece unir todos os fenómenos: a revolta dos que perderam qualquer perspectiva de vida. Do que se trata aqui – no fundamental – é de uma “jacquerie”. Os seus vectores diverjem e entre-afrontam-se, até, numa perigosa embriaguês da morte, para usar uma expressão de Marx. Mas têm em comum a origem e a natureza.

O sistema fê-los nascer e multiplicou-os por carecer de carne para canhão, preparando o incêndio da guerra que, como se vê, vai em adiantado estado de propagação. Tenciona usá-los como “inimigo” e soldados próprios, em alguns casos “voluntários”, noutros mercenários, noutros ainda simplesmente conscritos que nada têm a perder por irem matar para algum lado, em vez de se deixarem estar no sítio onde serão mortos pela indigência, i.e. pela polícia ou pela doença (se acaso houver uma diferença entre as duas). O sistema político-partidário, porém, não obedeceu com a rapidez necessária à sua direcção político-económica. A guerra fez-se. Mas tardou. E fez-se em casa alheia sem mobilização dos “recursos humanos” gerados em território próprio. E essa gente de “vida irrelevante”, nas terras onde o homem é “fim em si próprio”, segundo o discurso oficial, essa gente não vê vida para si.

O que se temia na extrema direita – o sarcasmo do sistema é portentoso – foi realizado pela corja sob bandeira socialista, demo-cristã, liberal. A extrema direita, propriamente dita, os resquícios do nazismo e fascismo, apelando embora à revolta geracional, não aglutinou em torno da suástiva ou do fasces nada que possa haver-se por significativo, excepção feita aos espanhóis que mantêm o fasces como simbolo operante da guardia civil (sem protesto público que se conheça).

Aquilo a que se chama extrema-direita em França é talvez a expressão mais benigna do fenómeno geral. E a expressão que se aproxima mais da resposta necessária. O sistema é criminoso. Está dirigido por monstros. Deve ser eliminado porque se eliminou a si próprio i.e. usou o inteiro projecto político como máscara para a concretização, por si e em si próprio, do seu contrário.

O sistema julgou-se a si mesmo, portanto. Pese embora a renitência de boa parte da classe média urbana, que ainda recebe pensões e salários sem se dar conta que as suas vidas valem tão pouco como as de quaisquer outros. E a sentença, como o sabem bem os que procuram flutuar entre escombros, a sentença é a morte. O sistema teve até a lucidez de colocar nos seus primeiros planos gente de aspecto execrando. Gente cuja queda valerá apenas o espectáculo que há-de ser: o horrendo Barroso, o execrando Hollande, a degenerescência que é Merkel, o anómalo Rajoy, o repugnante Aznar. Podemos também pensar no asqueroso Portas, no medonho Montenegro, na doentia Teixeira da Cruz. Gente que não é já, sequer, morfologicamente normal. Mas Portugal atravessa hoje um singular tempo de vésperas com refracções próprias destas cruéis luzes.

Esta é a linguagem que plausivelmente se ouvirá a partir de agora e será tendencialmente, a expressão da realidade política e social, institucional, até. Até agora temos visto a morte sem a chamar pelo nome. Agora veremos enfim o significado cabal do que se andou a fazer. A morte. Há todavia duas mortes: a de Nanterre, com Richard Durn nos gatilhos, a querer matar “os responsáveis”; ou a do Bataclan a cujos assassinos serve qualquer morte porque “não há inocentes”.

Quanto a Portugal, soube entretanto que a escumalha continua a penhorar fiscalmente casas de habitação por verbas de 1000 euros – e o faz, de resto, com todo o artifício, para que as pessoas não se apercebam e não possam defender-se. A voracidade das máfias das execuções e da corrupção é a única explicação para isso, porque não há outra explicação. Só a cegueira do lucro na venda de uma casa por dez vezes menos, pode explicar a insistência de se desalojar uma família de surpresa e por meios realmente fraudulentos… Como é que isto sobrevive tanto tempo?

2 pensamentos sobre “Do que se trata!

  1. Nem mais. Como no (meu) Ribatejo, é tempo de chamar os bois pelos nomes. Por isso, também, obrigado ao autor. E não apenas pela expressividade com que foi encontrando cognomes para os da seita liberal-fascista, como o burguezote do Barroso, o Aznar e outros nomes de responsáveis pelas consequências a que o autor sintetiza designando-as apenas por MORTE. Mas os principais cabecilhas (George W. Bush, Tony Blair, Aznar e Barroso) ainda nem sequer foram acusados dos crimes que perpetraram no Iraque desde que em 2002 os dois primeiros acordaram fazer a guerra, que se iniciaria em 2003 depois da reunião na Base das Lages. O tempo se encarregará de fazer justiça, e até lá, há que denunciar o capitalismo enquanto 1º responsável pelas dramáticas situações a que, desde há séculos, vem impondo ao planeta em geral e à família humana em particular, designadamente aos mais desfavorecidos a quem, em nome de ideais sublimes como a liberdade, a democracia e até o socialismo, embebeda com slogans tentadores chamando-os ao voto, para a seguir continuarem a explorar “democraticamente”…. Até quando?????

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