As legislativas é que contam mas as presidenciais é que mexem

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 28/08/2015)

Nicolau Santos

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Decididamente, o mundo político está de pernas para o ar. Nas televisões vai-se vendo um esforçado António Costa a calcorrear o país para dar a conhecer a sua mensagem, mas a maioria está a fazer-se de morta. Como resultado, o que está mesmo a entusiasmar comentadores, analistas e comunicação social são mesmo as voltas e reviravoltas das candidaturas presidenciais.

Como resultado da estratégia da maioria, que quer falar muito pouco do passado e pronunciar-se apenas sobre alguns dos resultados económicos atuais e sobre o facto de nos ter salvo de sermos uma nova Grécia, a campanha tem sido morna, tirando algum picante decorrente de erros dos socialistas, martelados até à exaustão pela quinta coluna das redes sociais e que depois chega inevitavelmente aos media tradicionais. E tem sido tão morna que o próprio Presidente da República veio constatar esse facto, considerando que nos estamos a aproximar dos padrões europeus nesta matéria.

Sobra, portanto, o picante das presidenciais, que ainda vêm longe e que serão inevitavelmente condicionadas pelo resultado das legislativas. Mas o certo é que não há dia em que não apareça ou um novo candidato, ou a declaração de um candidato ou dos seus apoiantes, e análises sobre análises sobre o que é melhor para o candidato Y ou Z e sobre as intrigas que dentro dos partidos se vão desenvolvendo à roda deste apaixonante tema.

E assim apesar de pensar que isso era o melhor para si, Rui Rio não avança em setembro, porque Passos Coelho só quer falar das presidenciais depois de 4 de outubro. Marcelo Rebelo de Sousa, que sabe que por vontade de Passos não será apoiado pelo PSD, já terá a sua máquina preparada para o levar ao colo até Belém. Pedro Santana Lopes pôs-se a fazer contas à vida e antes um pássaro na mão (a Santa Casa da Misericórdia) do que um muto fugidio (a conquista do palácio cor-de-rosa). Sampaio da Nóvoa anda a pedalar pelo país, ansiando por um sinal definitivo de António Costa. Maria de Belém vai tecendo a sua teia por forma a Costa ter mesmo de a apoiar. O PCP admite não apoiar um candidato próprio. E depois há mais candidatos, de todas as cores e paladares, que permitirão seguramente uma ampla escolha para aquele que os portugueses entendam ser o melhor Presidente da República para os próximos quatro anos.

Ana Sá Lopes escrevia no i que António Costa ganha as legislativas e Marcelo Rebelo de Sousa as presidenciais. Há quem prefira o contrário: ganhar as legislativas, embora perdendo as presidenciais. E há quem aposte na dobradinha: São Bento e Belém. Sempre avisado e alinhado com as sondagens, Cavaco Silva já vai falando em acordos parlamentares que garantam uma governação estável nos próximos quatro anos. A chave está nos indecisos, que todos procuram captar. A maioria joga com a recuperação que se vai notando (mais nos indicadores que na vida das pessoas), esconde coisas que vai fazer (o corte de 600 milhões nas pensões) e diz que o PS nos levará para os caminhos gregos. O PS tenta explicar uma proposta económica interessante mas de difícil compreensão, enreda-se em cartazes polémicos e numa campanha bastante amadora e aposta agora tudo no único valor seguro que tem: António Costa.

Os debates que aí vêm serão importantes. E tudo o que se disser e fizer em setembro inclinará a balança para um lado ou para outro.

A maioria acredita no efeito Cameron. O PS acredita que a escolha «ou eles ou nós» o vai beneficiar. Aguardemos serenamente – com a certeza que não é indiferente a escolha mas que muito do nosso futuro não está nas nossas mãos.

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