Petróleo barato: as boas e as más notícias

(Paul De Grauwe, in Expresso, 22/08/2015)

Paul de Grawe

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Embora os efeitos a curto prazo da descida dos preços do barril de crude sejam positivos, os efeitos a longo prazo não o são tanto.

Desde o princípio do verão, os preços do crude começaram de novo a cair. De mais de 60 dólares por barril em junho o petróleo caiu para aproximadamente 42 dólares. Há um ano o preço do crude era superior a cem dólares o barril. São quedas de preços fantásticas raramente vistas no mercado do petróleo. E são responsáveis pela recuperação económica de muitos países europeus. Isto não é surpresa. Uma descida desta grandeza significa que os consumidores que gastam uma parte significativa do seu orçamento em gasolina descobriram que depois de terem atestado o depósito ainda lhes sobra poder de compra para outros artigos.

Por outras palavras, a descida do preço do petróleo equivale a uma redução dos impostos. Como resultado disto, o rendimento disponível aumentou. Este efeito foi suficientemente forte para mais do que compensar as políticas de austeridade praticadas em muitos países da Europa. É responsável pela recuperação económica que vimos na maioria do continente. Assim, parece que a queda do preço do petróleo é uma boa notícia.

Embora os efeitos a curto prazo da descida dos preços do crude sejam positivos, os efeitos a longo prazo não o são tanto. Há um ano, o crude estava a mais de cem dólares por barril. Isto criava um grande incentivo ao desenvolvimento e aumento da quota de uso das fontes de energia alternativas como a energia solar ou eólica. Esta última tornou-se rentável face a preços altos do petróleo. Hoje, com o petróleo a preços baixos, em muitos países, este já não é o caso.

Além de mais, o petróleo a baixo custo tem um efeito pernicioso ao tornar o transporte por carro, camião e avião de novo mais barato. Como resultado, isto constitui novo incentivo para a excessiva especialização a nível mundial intensificando o transporte maciço de bens e mercadorias de um canto do mundo para outro. Este aumento dos transportes significa uma subida nas emissões de CO2 e fará disparar o aquecimento global.

Concluímos portanto que se os preços baixos do petróleo se mantiverem os efeitos a longo prazo para o mundo serão muito negativos. Estes efeitos negativos a longo prazo superarão muito provavelmente os efeitos de ciclo económico positivos que hoje sentimos.

Como é que este dilema entre efeitos positivos a curto prazo e efeitos negativos a longo prazo pode ser resolvido? A resposta económica é fácil; a resposta política é difícil.

O aumento de impostos sobre os combustíveis que os governos deveriam fazer cria muitos inimigos

Os governos dos países importadores de petróleo podiam facilmente resolver este problema aumentando os impostos sobre os combustíveis de forma a manter os preços da gasolina ao nível existente há um ano e usar o imposto acrescido para baixar outros, por exemplo, os que incidem sobre os rendimentos do trabalho. Como resultado, os consumidores continuariam a beneficiar de maior poder de compra. Este não resultaria do baixo preço da gasolina, mas da redução dos impostos sobre o rendimento.

Assim, essa deriva dos impostos (mais imposto sobre os combustíveis e menos impostos sobre o rendimento) tornaria possível manter os efeitos positivos a curto prazo no ciclo económico, uma vez que os consumidores teriam mais dinheiro para gastar. Ao mesmo tempo, porque os preços dos combustíveis se mantinham altos para os utilizadores, evitar-se-iam todas as consequências negativas para o ambiente a longo prazo. Simples, não é? É, mas infelizmente a política é mais difícil.

O problema político decorre do facto de que o aumento de impostos sobre os combustíveis que os governos deveriam fazer cria muitos inimigos. Para já, as empresas de automóveis e a indústria dos transportes. Todas elas lucram com o presente regime de preços baixos do petróleo e provavelmente resistiriam a qualquer aumento de impostos sobre os combustíveis. Em contraste, os consumidores são na sua maioria indiferentes face à questão de o seu aumento do poder de compra provir da gasolina barata ou da diminuição de impostos sobre o rendimento. O efeito líquido é que seria difícil aos governos ultrapassar a resistência política organizada pelas empresas de automóveis e a indústria dos transportes.

A única saída para este problema político é através de uma força política de oposição. Tal força pode concretizar-se quando largos sectores da população reconhecerem que o petróleo a baixo custo aumenta o risco de aquecimento global e que isto pode ser travado com pequeno custo em termos de crescimento económico. Tal força pode torcer o braço aos políticos obrigando-os a agir na salvaguarda dos interesses da população em geral, hoje e no futuro.

(*Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica)

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