As Listas do PAF – Em jeito de prefácio

(Carlos Reis, in Facebook, 27/07/2015)

Carlos Reis

             Carlos Reis

Naturalmente que irei estes dias aqui analisar as listas de candidatos a deputados pela PàF. Mas antes de o começar a fazer – e sobre a escolha dos principais cabeças-de-cartaz há umas coisas a dizer e a apontar – importa que diga desde já alguma coisa. Não que aquilo que aqui eu diga seja muito importante ou que sequer vá influir algo nas escolhas da direcção do PSD. Mas tenho de falar por uma questão de coerência e de verdade.

Todos nós temos na vida uma linha qualquer que traçamos e da qual entendemos não poder abdicar. Em relação ao PPD/PSD onde me filiei há 29 anos (primeiro só na JSD em Fevereiro de 1986) também eu tracei essa linha.

Não será aqui nem agora que fundamentarei cabalmente porque é que não me revejo neste PSD e porque é que não me sinto vinculado às suas actuais orientações. A minha afirmação aqui hoje é apenas e só o testemunho de um cidadão perante a sua rede de amigos e conhecidos: a constatação de que este PSD não tem lugar para mim mas também a minha teimosia de que eu nada fiz nem nada farei para ter lugar neste PSD e nesta filial do PPE. Como é óbvio eu passo relativamente bem sem a política partidária e o PSD ainda passa muito melhor sem mim.

Mas uma coisa é eu não ter lugar num determinado partido. Outra coisa bem diferente e que não poderei tolerar é impedirem-me também de ter lugar no meu próprio país. E, ainda muito pior, é saber que milhares de portugueses e de portuguesas como eu, possam ver a sua vida e os seus sonhos ameaçados por alguém que venha a falar em nome do meu partido. Isso não! Nunca em meu nome!

Isto para dizer que registo o facto de a Comissão Política Distrital de Lisboa ter aceite a indicação da senhora Isilda Pegado como candidata a deputada feita pela Secção de Mafra do PSD e de a ter remetido à consideração da Direcção Nacional do PSD para decisão. Sejamos claros: nada tenho de pessoal contra a senhora em questão. Cumprimentei-a, salvo erro, uma vez na vida. Provavelmente até haverá outros candidatos que terão mais acrimónia por mim: alguns se calhar até me passariam com o carro por cima se me vissem a atravessar a rua. Nem isto é nenhuma questão de bastidores ou de rivalidades partidárias: estou totalmente fora desse jogo, e por outro lado, até tenho amigos nessa Distrital que aceitou a indicação dessa senhora (dois desses meus amigos até são os Vice-Presidentes dessa Distrital).

E, como disse, a senhora em questão não me irrita pessoalmente em particular. Nem sequer é o seu conservadorismo social que me repugna: convivo com esse conservadorismo no meu país, em parte da minha família, na minha vida profissional, até no desporto. Sinto-o presente na Igreja de que ainda sou crente. Não estou em guerra contra ninguém nem me sinto numa luta civil sectária. Faço parte de uma sociedade complexa, multipolar, contraditória. Não sinto em mim nenhum zelo fracturante nem sonho com engenharias sociais. Tudo o que quero é uma sociedade decente onde todos e todas tenham direito a ser felizes por inteiro – como cidadãos inteiros e emancipados.

Mas a entrada do activismo reaccionário, pré-conciliar, anti-franciscano, e profundamente revanchista, que Isilda representará na futura agenda política, precisamente pela porta e com o microfone do PSD, que até ao ano passado sempre foi neutro em matérias de costumes, e que sempre encontrou lugar para todos, significa para mim um sinal intolerável.

Não serei pois tolerante com quem me não tolera. E não assistirei calado à transmutação do PSD num sucedâneo de um qualquer movimento tradicionalista rançoso, de uma espécie de Cruzada Nun’Álvares serôdia, com uma agenda e discurso codificado semelhante à da direita fundamentalista americana actual.

Se o PSD pensa que tem muito a ganhar com Isilda Pegado ou com outras Isildas e que por isso vai conseguir captar em Lisboa muitos votos dos fiéis que a Obra ou o aparelho do Patriarcado lhe garantam, isso é lá com eles. Que Isilda lhes faça bom proveito. Mas não será em meu nome. E como é óbvio nunca o farão comigo calado.

Não serei cúmplice pelo silêncio. É certo que 29 anos da minha vida não se apagam facilmente assim de uma vez – mas o futuro dos meus semelhantes vale muito mais do que a nostalgia por um passado cada vez mais distante do que sou e do que ainda sonho vir a construir.

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