As perguntas que eu faria a António Costa

.(Estátua de Sal, 09/07/2015)

António Costa

António Costa

Hoje, a TVI e a TVI24 vão, seguramente, monopolizar o espaço informativo.

A Grécia está em banho-maria: Tsipras vai apresentar, até às 23 horas, as suas propostas para alcançar um eventual acordo que, julgo, não irá ocorrer, porque o objetivo da UE não é chegar a um acordo mas derrubar o Governo do Syriza e depois logo se vê. A não ser que os esforços evidentes, empreendidos nas últimas horas pela França e pelos EUA, consigam evitar o radicalismo alemão e Grexit anunciado.

António Costa (AC) dará uma entrevista à TVI, seguindo um novo formato em que um painel de anónimos cidadãos será chamado a colocar-lhe perguntas. É inquestionável a importância que as respostas de Costa terão para os eleitores, tendo em conta que nenhuma solução governativa se prefigura no horizonte que não passe pelo Partido Socialista, seja em coligação seja em maioria.

Contudo, temo que Costa se continue a refugiar em meias explicações e num  conjunto de alegorias redondas e sem definição última, no que toca a questões essenciais que reportam às opções que quer para o País e em relação às quais se predisporá a lutar.

Assim, aqui fica um elenco de questões que gostaria de colocar ao líder socialista, mas que, provavelmente, não serão ainda esclarecidas na totalidade. E porquê? Porque, se Portugal não é a Grécia, (por boas e más razões), é no entanto, cada vez mais claro que a solução para os problemas do País só pode ser contextualizada no quadro da Europa e este quadro será determinado, em geometria variável, mas de forma indelével por aquilo que for decidido relativamente à questão da dívida grega.

1) Considera AC que é possível promover o crescimento da economia portuguesa, cumprindo estritamente as regras impostas pelo tratado orçamental? Se sim, como acha plausível financiar esse crescimento?
2) Considera AC que a dívida pública do País é pagável sem implementar novas medidas de austeridade e sem sacrificar ainda mais o Estado Social?
3) Em caso de turbulência nos mercados e subida das taxas de juro, que impeçam o financiamento da República nos mercados a custo razoável, o que irá propor? Uma renegociação da dívida e alargamento de maturidades ou um novo resgate com a aceitação de novas formas de condicionalidade e austeridade?
4) Acha AC que é importante o País começar a discutir os prós e os contras de uma saída negociada do Euro, tendo em conta a sua deficiente arquitetura, que só prejudica os países menos competitivos dentro da união?
5) Em caso de vitória socialista, sem maioria absoluta, está AC aberto a negociar alianças com Pedro Passos Coelho ou o diálogo com tal personagem está liminarmente fechado? E se for com o PSD, mas sem Passos?
6) ) Em caso de vitória socialista, sem maioria absoluta, está AC aberto a negociar com os partidos à sua esquerda, seja através de acordos parlamentares, seja através de uma aliança governativa, ou tal cenário está, à partida, liminarmente excluído?
7) Irá o partido socialista apresentar um candidato à Presidência da República ou será plausível apoiar algum dos candidatos que já manifestaram intenção de se candidatar?
8) Não acha, AC, que a forma como a justiça está a conduzir o caso de José Sócrates, com violações constantes do segredo de justiça, e julgamento na comunicação social e na opinião pública, é um atentado ao Estado de Direito? Se sim, porque não foi ainda capaz de denunciar e verberar, na qualidade de líder do maior partido da oposição e candidato a Primeiro Ministro, a iniquidade de tais práticas?

E por aqui me ficaria. Como a política é a arte do possível, nem todas as perguntas irão ter, certamente, uma resposta satisfatória e concludente. António Costa, irá ter hoje uma primeira prova de fogo. Hoje também é quinta-feira, dia de Quadratura do Círculo. Costa já não comenta. Agora é mais difícil e mais sério. Estará por sua conta e terá que resolver sozinho a sua própria quadratura.

Estátua de Sal, 09/07/2015

2 pensamentos sobre “As perguntas que eu faria a António Costa

  1. Pessoalmente acho extraodinário como é que ainda pode haver alguém que se queira de esquerda, ainda que só ligeiramente, e continue a preocupar-se com o AC diz que vai fazer. Sejamos claros: a prioridade é derrotar a direita e retirar-lhe o poder. Por muito pouca que seja a margem de AC para governar à esquerda, será sp melhor do que o governo que temos tido. Tudo o mais são pruridos de apreciadores de virgens imaculadas, género “esquerda pura e verdadeira”. De AC eu não espero a perfeição ! Basta-me que arrede quem lá está e que faça o que lhe fôr possível para remediar o que tem sido feito.

  2. Precisamente JRodrigues; foi com tal pensamento e mentalidade que se aliaram a eles e os puseram lá e, novamente, ainda continuam com as mesmas dúvidas e interrogações de miudezas laterais à questão essencial.
    Mas porra, hoje tem a prova provada e a medida de quanto vale a maldade obscena desta gente desonesta;
    são burros teimosos que, fazendo passar-se por astutos finórios a quem ninguém faz o ninho atrás da orelha, levam com o ninho e a ninhada em cima da cabeça..

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