(Clara Ferreira Alves in Expresso, 30/05/2015)
Duas decisões estratégicas teriam sido a construção do aeroporto fora da cidade de Lisboa, um hub à altura do tráfego futuro, e a construção de uma rede de alta velocidade ligada à Europa.
Um dos indicadores civilizacionais de um país é o seu sistema de transportes. Se olharmos para o Brasil, vemos a perpétua disfunção brasileira no modo como um país com recursos se dedicou a não investir um cêntimo numa rede de transportes e como não dispõe de uma rede de estradas, de transporte ferroviário, de transportes coletivos urbanos. De bons aeroportos. Ou uma companhia aérea mais do que sofrível. Tudo o que está errado na pública administração do Brasil se vê no pesadelo do trânsito de São Paulo. A Varig? Não faliu, ruiu. E nós apanhámos, via TAP, os cacos (prometi não falar mais na TAP mas há novidades escandalosas). Parece que Dilma Rousseff olhou para a China e resolveu, empurrada pelas manifestações, dotar o Brasil de uma rede ferroviária semelhante. Conhecendo o historial do Brasil, e a junção da complacência com a corrupção, só podemos rir. O Brasil é o seu sistema de transportes. Do mesmo modo que o Japão é o metro de Tóquio e os bullet train, os comboios rapidíssimos que partem ao segundo, que nunca se atrasam e percorrem todo o país. A ordem, a organização e a inteligência coletiva dos japoneses veem-se no seu sistema de transportes.
Portugal é, como todos sabemos, um país altamente disfuncional e a disfunção precede a austeridade. Duas decisões estratégicas fundamentais teriam sido a construção do aeroporto fora da cidade de Lisboa, um hub à altura do tráfego futuro com a Europa, África, Ásia e América do Sul, e a construção de uma rede de alta velocidade ligada à Europa. Estas decisões deveriam ter sido tomadas e executadas antes de Sócrates, mas os interesses em disputa e a ganância dos operadores, respaldados nos habituais escritórios de grandes advogados e numa banca ávida de lucro fácil fez com que nunca os agentes políticos conseguissem chegar a uma decisão. Os agentes políticos são o que são. Privilegiaram o transporte individual e a construção de autoestradas (hoje vazias) e deixaram que os transportes ferroviários e os transportes urbanos se degradassem ou perdessem dinheiro até se tornarem insustentáveis. Os transportes de Lisboa são erráticos e ineficazes, o metro é insuficiente e não serve bairros históricos como a Estrela ou as Amoreiras, Campo de Ourique ou Campolide. Desistiu-se, simplesmente, de servir uma parte da cidade. Desistiu-se de retirar os carros do centro e permite-se que durante os dias de semana se formem filas intermináveis de trânsito dos trabalhadores suburbanos nas ruas da capital. Os moradores de Lisboa pagam a fatura da poluição juntamente com o metro quadrado mais caro de Portugal. A linha de Cascais está decadente e mete nojo. A linha de Sintra é uma vergonha. O metro e os autocarros fazem greve todas as semanas e continuam a ser, como se sabe, altamente dispendiosos. Nunca foi criada a célebre autoridade metropolitana de transportes. E ao fim de semana, bairros históricos são invadidos por gente em busca de entretenimento e restauração que não prescinde do automóvel. Não há silos à entrada da cidade. Não há elétricos rápidos como noutras capitais europeias. As decisões são remendos. As mexidas na Avenida da Liberdade trouxeram mais trânsito para o Príncipe Real e as Amoreiras (as filas que o túnel do Marquês tinha anulado regressaram em força intoxicando a atmosfera) e optou-se por remover os carros velhos quando seriam todos os carros que deveriam ser removidos do centro histórico alargado. E pensa-se, ciclicamente, em construir um parque de estacionamento no Príncipe Real, projeto demencial e atentado ecológico que os moradores têm conseguido combater. No essencial, o sistema de transportes de Lisboa não presta e não presta um bom serviço. Circulam autocarros vazios. O aeroporto no centro da cidade, com o aumento do tráfego aéreo, é um erro colossal que só por milagre não tem tido consequências catastróficas. Os aviões passam a raspar os prédios. E aterrar em Lisboa, com os ventos, é difícil. O interior do aeroporto, desde a privatização, tornou-se um centro comercial, mas as zonas de desembarque não têm passadeiras rolantes (obrigando a percursos quilométricos) e as novíssimas lajes estão, depois das recentes obras, partidas. Querem que sejam os passageiros de táxi a pagar à ANA a taxa que ela passou a dever à CML, através da tarifa fixa. O comboio para o Porto, o pobre Pendular, ganha no percurso uma dezena de minutos e uma distância de trezentos quilómetros demora três horas a ser percorrida.
A privatização da TAP, um processo nebuloso e provadamente malicioso, conheceu um desenvolvimento com os aviões a apodrecer em Sevilha do sr. Efromovich (uma história inacreditável), à espera que o Governo decida (?) qual dos brasileiros fica com a TAP e quanto é que vamos pagar da dívida da TAP antes de a oferecer (palavras de Pais do Amaral). Tudo isto diz tudo sobre nós. E a estupidez coletiva.
Será que para esta mulher não há nada que funcione neste país? Podia emigrar de uma vez que não fazia cá falta.Nunca lhe li nada que não fosse a atacar tudo e todos. Irra. Se não está bem que se mude !l
O que está bem não precisa correcção, cara Isabel. Cumpre é denunciar o que está mal para tomar medidas e mudar as coisas. Quando vai ao médico com dor de rins, chega lá e fala do dente do siso que já lhe tiraram?!
Na verdade, não há nada que funcione neste país! Quanto a transportes, que são a maior nódoa, só quem os tem que utilizar é que sabe. Eu sei!
A Varig não ruiu. Ruiu sim o projeto de uma Cia Áerea Estatal do PT. Parte integrante do projeto de poder do PT ainda em vigor, que graças as lambaças dos seus líderes famintos por dinheiro e poder vão para o ralo todos os dias mas que, infelizmente levam junto esta nação e seus sonhos.