O erro presidencial do PS

(Pedro Santos Guerreiro, in “Expresso”, 11/04/2015)

Pedro Santos Guerreiro

                    Pedro Santos Guerreiro

O PS está tão desesperado que não disfarça o sentimento de traição pela indisponibilidade (indisposição?) de António Guterres para ser candidato. Mas quer o país um Presidente que não quer ser Presidente do país?

O PS não deseja por afeição, precisa por eleição. Todas as sondagens foram mostrando que, à partida, Guterres era imbatível à esquerda e imbatível contra a direita. Bastaria querer e, provavelmente, seria Presidente. Não quer. Azar do PS. Mas tem direito a não querer; a ter como preferência ser secretário-geral das Nações Unidas; a ter como plano B a presidência da Fundação Gulbenkian. É quase uma questão de decoro não reservar a Presidência para última opção.

Mas há neste surto de popularidade de Guterres uma pergunta que tem mais a ver connosco do que com ele: como é que um antigo primeiro-ministro, que saltou a meio de uma legislatura como um sapo de um pântano que todavia permanece sem ele, volta a ser querido? Foi por ter sido um excelente primeiro-ministro? Não, porque não foi. Foi por ter estado fora do país? Também não, Barroso também esteve e está a léguas da popularidade. Foi pelo que fez entretanto? Talvez, mas só se porque aquilo que fez foi… não ter feito política. É essa a perplexidade: a reabilitação de um político acontecer por ele se afastar da política.

A pressão do PS para que Guterres avançasse por ter obrigações para com o partido (como disse Manuel Alegre neste jornal, dando eco público a muitas vozes em privado) terá criado o conflito entre a decisão individual e a vontade de um grupo, mas Guterres superou-o. Deixou o PS no pântano? Não, este pântano não é dele. Mas aquela gente anda perdida na charneca.

Não foi a direita, foi o PS que matou Sampaio da Nóvoa, ou pelo menos o seu arranque.

O mais incrível desta semana não foi o número de candidatos que saiu de baixo das pedras, nem o facto de essas pedras serem arremessadas ao candidato — sobretudo a um candidato. O mais impressionante foi ver um PS que entrou em parafuso com a fragilidade das alternativas. Sampaio da Nóvoa foi dizimado à primeira respiração, já perdeu no mínimo o ímpeto do arranque. O Expresso noticiou sexta, o “Jornal de Notícias” entrevistou-o sábado e ele, que não ainda não formalizou candidatura, apresentava-se apenas vestido de homem sério, íntegro e fervente de sonhos. Não teve hipótese. Não teve tempo para o seu “Yes We Can”, frase iniciática da obamomania que também era tão promissora quanto vazia — mas empolgante. Sampaio da Nóvoa pôs o pé de fora e só havia minas.

Não foi a direita, foi o PS que matou Sampaio da Nóvoa. O reitor poderia até ser fraco mas o PS sem Guterres não tem ases na manga nem teve asas nas costas para tentar fazer de Sampaio da Nóvoa uma oportunidade apoiada, uma surpresa arriscada. Sim, foi o PS que estragou essa possibilidade, cego pelo pavor de perder as eleições. António Costa foi o maior prejudicado com o volteio, por culpa própria, por ter dado apoio a Nóvoa sem tratar do partido, por ter perdido o controlo da situação política no PS e na preparação para as eleições.

O problema não é haver Nóvoa e não haver Guterres, o problema é o PS. Passos Coelho sorri: quando toda a gente de fora podia estar a olhar para a subida do desemprego e toda a gente de dentro poderia amolar facas para a sucessão, é para o PS que se olha e do PS que se fala — do que o PS faz e de como o PS se desfaz.

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